Lobos em Pele de Cordeiro

O gosto pelo treino e a forma de encarar seu desfecho são, para alguns, uma maneira cruel de alcançar os resultados que tanto desejam. Como profissional, canso de ouvir que treinar é torturante e que deveria existir um jeito mais fácil de mudar o corpo ou melhorar a saúde. Esse mantra ressoa entre aqueles que compartilham determinados horários, como se cada um quisesse mostrar que sofre mais do que o outro. Felizmente, existem aqueles que, ao me ver, viram os olhos, sorriem e gargalham, tornando o ambiente mais leve e dissipando, ao menos parcialmente, a negatividade.

O que poucos imaginam é que essas frases e comentários funcionam como um veneno para a mente. A repetição e a confirmação dessas ideias entram no nosso cérebro e podem ser armazenadas como crenças. O mais curioso é que alguém pode nunca ter experimentado um treino, mas já odiá-lo antes mesmo de começar.

Isso não acontece apenas com o exercício. Por exemplo, imagine que você gosta de tomar cerveja e, repetidamente, ouve seus colegas dizerem que a cerveja H é a melhor que existe. De tanto ouvir essa afirmação, você acaba aceitando isso como verdade. A partir desse momento, passa a não beber mais nenhuma outra cerveja, convencido por sua fama. Da mesma forma, pessoas que enfrentam dificuldades para perder peso escutam tantas vezes que emagrecer é impossível que essa crença se torna uma barreira real.

Sabe aquela famosa frase: "Diga-me com quem andas, e te direi quem és"? Ela reflete bem a forma como desenvolvemos nosso pensamento e tomamos decisões influenciados pelo meio em que vivemos. Hoje, com as mídias sociais e o mundo virtual, essa influência se tornou ainda mais intensa. Se não tivermos controle, podemos nos perder e acabar sendo manipulados por informações enganosas.

Todos podemos cair nessa cilada. Isso aconteceu comigo durante um almoço com colegas de trabalho. No início da minha carreira, ouvia repetidamente outro profissional dizer que treinar era difícil por diversos motivos. Como era uma pessoa de grande influência e respeito para mim, essa ideia acabou pesando no meu discernimento. Sem perceber, passei a repetir esse mesmo discurso por um bom tempo. Naquele encontro, porém, bastou ouvir o professor Emerson Franchini dizer: "Eu adoro treinar, me sinto bem, mesmo com meu ombro estourado. É um dos melhores momentos do meu dia" para que eu refletisse sobre o quanto sempre amei treinar. Aquela frase virou a chave na minha percepção e me fez reafirmar o prazer que sinto no treino.

Quando buscamos algo, é essencial identificar quem realmente está ao nosso lado. Existem lobos em pele de cordeiro. Eles podem não ser pessoas más, mas acabam influenciando nossos pensamentos por meio de suas próprias crenças. Estão disfarçados de motivadores, como o diabinho que sussurra no ouvido: "Vamos lá, toma mais uma!", "Para de ser chato, come essa porção!", "Você é maluco de treinar, isso não vai te levar a lugar nenhum!", "Vem sentar no sofá!" Esses influenciadores são perigosos porque, dentro de sua visão distorcida, acreditam estar fazendo o "bem".

"Amigos esperando"

Escolha bem seu entorno social e os ambientes que frequenta. Reflita sobre o que ouve, fala e faz. Apoie-se no verdadeiro conhecimento e não em influências duvidosas ou no que é propagado pelas mídias sociais. A pressão social é realmente grande, e pertencer a um grupo pode, sim, proporcionar um pouco de conforto mental. Mas que isso nunca aconteça às custas da sua saúde e do seu bem-estar psicoemocional.

Espero que esse texto te ajude.

Forte abraço,

Matías.